Sofia Franco, gerente de pós-produção: É preciso união das mulheres e políticas públicas
Que as séries brasileiras estão em um dos seus melhores momentos, isso não tem como negar. Isso porque além dos números positivos com relação a produção e exibição de séries, principalmente após a criação da lei da TV Paga, promulgada em 2012 e que obriga canais de tevê por assinatura a veicularem em sua programação pelo menos três horas e meia de conteúdo audiovisual brasileiro, esse setor cresce exponencialmente. De acordo com estudo divulgado em 2017 pela Associação Brasileira de Produção de Obras Audiovisual (APRO) em parceria com o Sebrae, houve um aumento de 318% no número de horas dedicadas às obras seriadas brasileiras na tevê fechada, passando de 703 horas, em 2008, para 2.943 horas, em 2014, dois anos após a implementação da lei.
No mês dedicado à ressaltar a força da mulher na economia criativa, é preciso falar também sobre representatividade feminina no audiovisual. De acordo com pesquisa realizada pela Ancine (Agência Nacional do Cinema), entre os anos de 2007 e 2015, 40% dos cargos eram ocupados por mulheres e, em 2015, os salários delas eram 13% mais baixos do que dos homens. Para Sofia Franco, gerente de pós-produção de séries originais internacionais na Netflix, duas coisas são fundamentais para equiparar essa desigualdade: políticas públicas e engajamento das mulheres em ajudar umas às outras. Para ela, as prioridades políticas atuais não ajudam, por isso, deve-se priorizar a contratação, o treinamento, a inclusão das mulheres nas empresas e em projetos. “A panelinha do bolinha existe no mercado e acho que não podemos esperar que os homens tomem consciência de como isso é nocivo. Então, até estarmos em um contexto de paridade de gênero no mercado, precisaremos estar mais atentas às mulheres que estão trabalhando com cinema e chamá-las pra somar junto”, comentou.
Ava DuVernay on the set of 'Selma.' Foto: Atsushi Nishijima/Paramount
Sofia Coppola. Divulgação
Ainda segundo a Ancine, em 2016, 20,3% dos filmes lançados no país foram dirigidos por mulheres, mas metade dessas produções são documentários, o que aponta para uma presença feminina em filmes de menor orçamento. De acordo com Sofia, o universo da pós-produção é uma das áreas que mais existem mulheres atuando, mas em outros setores como, correção de cor, CGI e VFX são compostos majoritariamente por homens. Embora o cenário não seja o mais animador, ela acredita que as mulheres estão conquistando seu espaço. “A mulher ainda atua mais nas áreas de produção que nas áreas de criação, como direção, roteiro e direção de arte. Mas, casos recentes de produções com mulheres em cargos criativos importantes tem dado muito certo. Alguns exemplos são Handmaid's Tale e Black Panther”.
Personagens femininas de Pantera Negra
Para conquistar esse espaço é preciso realizer consideráveis mudanças com relação a representatividade feminina, e algumas iniciativas políticas e inclusivas têm se destacado para emancipação da mulher nas produções cinematográficas, particularmente no mercado audiovisual brasileiro. Sofia citou o grupo de Facebook para compartilhamento de vagas “Mulheres do Audiovisual Brasil”, mas ainda existem outras, como a plataforma Mulheres no Audiovisual, que divulga e distribui nacionalmente e internacionalmente conteúdo artístico e audiovisual produzido por mulheres, o coletivo Hysteria, que tem como objetivo gerar conteúdo pensado por mulheres, além de iniciativas políticas, como a aprovação de cotas para mulheres, negros e indígenas pelo Comitê Gestor do Fundo Setorial do Audiovisual (CGFSA). “Acredito que quanto mais mulheres estiverem por trás das telas, melhor seremos representadas nos filmes e séries e mais sucesso teremos com o público feminino e, por que não, com o masculino também”, finaliza.
Maria Ribeiro em seu quadro "Tudo"no site Hysteria. Foto: Hysteria