Artigo sobre a política cultural no momento de pandemia
Por Gabriel Fontes Paiva, professor de produção teatral em colaboração com os alunos do curso de cenografia da EBAC.
Quase todo brasileiro hoje compreende melhor como a política influencia sua vida do que compreendia há 10 anos. Tardiamente, os artistas têm percebido o quanto as políticas culturais são determinantes e influenciam suas obras. A pandemia evidenciou ainda mais a necessidade de nossa participação política.
Assim, abri a primeira aula de política cultural do curso de cenografia da EBAC, coordenado por André Cortez, já no formato online, perguntando aos alunos o quanto a política determinava o fato de estarmos naquela condição e como ela influenciaria o futuro do nosso setor.
A reação foi como todas as vezes que leciono política cultural para uma turma de artistas. Sempre tenho o prazer de ver seus olhos vívidos e entusiasmados revelando surpresa, como se dissessem: “nossa, nunca tinha pensado sob tal ângulo”.
Isso acontece porque a política fala do agora. E também porque as faculdades de formação artística não costumam disponibilizar essa disciplina. Desta vez, a conexão foi ainda mais forte porque estávamos todos em isolamento e o setor cultural paralisado.
A pergunta trouxe muita reflexão à turma que me marcou por ser curiosa, interessada e talentosa. Características que garantiram que, ao final das aulas, respondessem com bastante propriedade à primeira pergunta. Ao ler o artigo 5º da nossa constituição, o aluno Sérgio Milani concluiu que "as políticas culturais devem garantir estabilidade e qualidade aos profissionais da área dentro de qualquer cenário.”
Ao compreender os modelos de política e financiamento da cultura da França, Inglaterra e EUA, a estudante Elaine Santos reivindica que "os editais de incentivo a criação, produção e circulação deverão aumentar o valor de prêmio e o prazo de duração do projeto a fim de garantir a proteção do trabalhador da cultura, a produção e o patrimônio artístico da cidade.
O setor cultural é um produtor direto de mais-valia na cadeia do turismo, do comércio e serviços.” Outra aluna, Ana Zavascki, reforçou ao compreender o conceito de economia criativa que “agora, mais do que nunca, precisamos de políticas que mantenham todos os envolvidos na cadeia produtiva em boas condições de vida.
Precisamos de suporte para que, quando a tempestade passar, seja possível realmente pensar em um suposto retorno para a normalidade”. Já fazendo considerações futuras, a aluna Gabriela Guardia considerou que a internet pode ser uma aliada política em momento de distanciamento. Já Lui Cobra conclui: “toda manifestação é uma semente política”.
Ao estudar de forma integral a cultura de um país, verificamos que a produção artística é diretamente ligada à política praticada naquela nação. Compreendemos que em uma democracia espera-se da sociedade civil sua participação na formulação de legislações e propostas de aprimoramento das políticas públicas.
O que pode ser feito individualmente, mas que ganha mais força organizada em entidades associativas, cooperativas ou sindicais. O artista também é responsável por essa contribuição pois sua obra é modificada pelo ambiente e pela a sociedade em que se expressa.
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